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quinta-feira, 23 de junho de 2016

Portos brasileiros são principal caminho da cocaína para Europa, diz ONU


Dados divulgados nesta quinta-feira também apontam que o País é o principal local de saída de drogas da América Latina para a Ásia (Foto: Agência Brasil)

Traficantes e organizações criminosas transformaram o Brasil no maior porto de trânsito da cocaína que abastece o mercado europeu e africano. Os dados fazem parte de um estudo publicado nesta quinta-feira, 23, pelo Escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Drogas e Crimes, que também aponta que o País é o principal local de saída de drogas da América Latina para a Ásia.

Os dados apontam que a produção vem de Colômbia, Equador, Peru ou Bolívia. Mas são os portos brasileiros que servem de trampolim para o mercado europeu.

Segundo o levantamento anual da ONU, cerca de 5% da população adulta do mundo – 250 milhões de pessoas – consumiram pelo menos uma vez drogas em 2014. O volume tem se mantido estável nos últimos quatro anos. Mas a entidade aponta que o número de pessoas sofrendo com “desordens relacionadas ao consumo de droga” aumentou pela primeira vez em seis anos. Hoje, são 29 milhões de pessoas nessa situação, contra 27 milhões um ano antes.

De acordo com o estudo anual, a quantidade de cocaína confiscada pelas autoridades mais do que dobrou na América do Sul entre 1998 e 2014, quando atingiu 392 toneladas. Esse volume teria se estabilizado.

Entre 2009 e 2014, a Colômbia representou 56% de todo o confisco na região e mais de um terço do mundo. No segundo lugar, vem o Equador, com 10%, contra 7% para o Brasil e Bolívia.

“No Brasil, o aumento da quantidade confiscada é atribuída à combinação de maiores esforços da polícia, de um mercado doméstico em expansão para a cocaína e o aumento de carregamentos para mercados estrangeiros”, indicou a ONU.

De acordo com o informe, o Brasil de fato se transformou no principal ponto de partida da cocaína que chega até o mercado europeu. A referência não aponta o País como maior produtor. Mas, entre 2009 e 2014, os portos nacionais teriam sido os principais pontos de trânsito, seguido pela Colômbia, pela Equador e pela República Dominicana.

Outra constatação da ONU é de que o Brasil é citado como o principal ponto de partida da cocaína que vai para a África, com mais de 51% dos casos e bem acima de todos os demais mercados. No caso africano, entre 2014 e 2016, pelo menos 22 toneladas de cocaína foram confiscadas na rota entre a América do Sul e a Europa, passando pelo oeste africano.

O Brasil também aparece como o maior local de trânsito da droga na América Latina, que chega até a Ásia.

Mortes

De acordo com a ONU, cerca de 270 mil pessoas morreram por algum tipo de complicação no consumo de drogas, um volume considerado como “inaceitável” e que pode ser evitado se medidas forem aplicadas. Pelo mundo, existiriam 12 milhões de usuários de drogas injetáveis, dos quais 14% vivem com HIV.

“O impacto geral do uso de drogas em termos de saúde continua sendo devastador”, alertou a ONU. Na Europa e na América do Norte, o número de overdoses por conta da heroína registrou um “forte aumento” nos últimos dois anos.

Já a maconha é a droga mais popular do mundo, com cerca de 183 milhões de pessoas que tenham consumido em 2014. O informe da ONU ainda apontou que a mudança de normas sociais com relação à maconha gerou um aumento de seu consumo, em paralelo à maior aceitação social de seu uso.

Fonte: Estadão Conteúdo


´Superanticorpo´ impede infecção por HIV em humanos


Anticorpos neutralizadores podem ter um efeito importante no controle da doença (Foto: Reprodução)

O "coquetel" de drogas contra o vírus HIV, causador da Aids, protege os pacientes e prolonga a vida, mas não chega a ser uma cura.

Uma série de estudos recentes, publicados nas duas mais importantes revistas multidisciplinares de ciência do planeta, a americana "Science" e a britânica "Nature", revelou que potentes anticorpos neutralizadores podem ter um efeito importante no controle da doença.

Os artigos, culminando com um divulgado nesta quarta (22) pela "Nature", mostraram que os tais anticorpos, retirados de pacientes que têm naturalmente uma resistência maior ao vírus e então clonados, protegeram pacientes que deixaram de tomar as drogas antirretrovirais e podem mesmo estar engajando o sistema de defesa do organismo a voltar a combater o vírus.

Esse novo estudo que sai agora revelou dados de um ensaio clínico com 13 pacientes infectados com o HIV-1. Pacientes que receberam quatro tratamentos com o anticorpo neutralizador (conhecido como 3BNC117) em intervalos de duas semanas experimentaram uma média de demora no retorno do vírus de 9,9 semanas, comparados com registros históricos que mostram uma média de 2,6 semanas.

Essa linha de pesquisa poderá reverter no futuro um tratamento e uma forma de prevenção relativamente baratos para a doença, especialmente disseminada em países pobres da África.

"Os testes em modelos animais foram muito encorajadores, mostrando que os anticorpos podiam proteger contra a infecção", disse à Folha o pesquisador brasileiro Michel Nussenzweig, imunologista na Universidade Rockefeller, em Nova York.

Nussenzweig é o líder do estudo publicado agora na "Nature". Ele é filho da dupla de parasitologistas Victor e Ruth Nussenzweig, dois renomados médicos e especialistas em malária, que se mudaram para os Estados Unidos por conta de perseguições políticas durante o regime ditatorial de 1964.

E por que Michel não seguiu nas pegadas dos pais, pesquisando malária"? "É algo mais limitado. O que eu faço é um problema muito grande e interessante", diz o filho de Victor e Ruth.

"Anticorpos têm propriedades adicionais, eles podem engajar o sistema imune em uma forma de imunoterapia –embora não seja uma vacina, é uma proteção semelhante a uma vacina", diz o pesquisador, que preferiu conceder esta entrevista por telefone em inglês do que em português, dada sua maior familiaridade com a língua adotada para termos científicos.

Em um estudo anterior, também de autoria do brasileiro, macacos receberam uma injeção de anticorpos que garantiu 23 semanas de proteção.

É esse efeito a longo prazo que Michel Nussenzweig e colegas procuram: obter terapias baratas e que possam ser aplicadas em locais com infraestruturas de saúde pública precárias, notadamente na África. "Esse é o objetivo da Fundação Bill e Melinda Gates, que patrocina esses ensaios", diz o brasileiro, eleito em 2011 para a Academia de Ciências dos EUA.

CLONANDO ANTICORPOS

O vírus HIV é notoriamente letal porque ataca justamente as células de defesa do organismo humano que deveriam impedir a infecção. É um tipo de "retrovírus", muito simples geneticamente, mas perigoso especialmente por isso. Ele é capaz de múltiplas mutações e pode ficar dormente dentro de células humanas.

"As drogas antirretrovirais são ótimas e baratas, mas têm efeitos colaterais e não curam a doença", diz o pesquisador brasileiro radicado nos EUA.

Mas uma parte dos pacientes tem atividade ampla de anticorpos contra o vírus HIV; algo já conhecido fazia vários anos. Faltava tentar usar essa descoberta em termos práticos, algo que Nussenzweig e colegas têm aperfeiçoado.

Os superanticorpos são conhecidos pela sigla em inglês bNAbs, de "broadly neutralizing antibodies" ("anticorpos amplamente neutralizadores"). Eles atacam diferentes alvos em uma proteína na superfície do vírus, a gp160, que lembra uma série de pregos ou "espigões" grudados na esfera que constitui o vírus.

O pesquisador brasileiro então desenvolveu um método particularmente eficaz para clonar esses superanticorpos dos pacientes especiais.

O novo estudo é delicado em termos éticos, pois inclui substituir uma terapia que funciona –o coquetel antiviral– por outra ainda em pesquisa. Os participantes foram informados dos riscos, pois pararam com a medicação dois dias depois da primeira injeção de anticorpos.

Um grupo recebeu uma dose inicial do anticorpo 3BNC117 e outra 21 dias depois; outro grupo, além da dose inicial, recebeu doses semelhantes 14, 28 e 42 dias depois, desde que não houvesse o retorno do vírus. Se houvesse retorno do vírus acima de um limite especificado, a nova terapia seria descontinuada e a antiga restabelecida.

Os resultados mostraram que 30% dos participantes continuaram sem a volta do vírus mesmo quando as concentrações de anticorpos tinham caído muito, e em apenas um caso o vírus emergente parecia ter alguma forma de resistência ao 3BNC117. Como escreveram os autores do estudo na "Nature", isso demonstrou uma "forte pressão seletiva" sobre os vírus emergindo de seus reservatórios.

Fonte: Folha de S. Paulo

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